E mesmo assim fui meio me arrastando à beira desse rio, que não é rio, que banha POA. E na orla do não-rio estava ainda mais lindo que os mais lindos lugares... Aquele tipo de lindo que não tenho a menor vontade de fotografar, porque claro, é o tipo de beleza não dá pra eu fotografar, guardar o que mesmo? Não tenho o talento de fotografar essas belezas que vem prontas.
Até aí já estava bem bom, mas fui prá etapa seguinte, entrei naquele museu mais que lindo e logo estava ali sentada me deliciando com o sotaque da minha terra. Era o Fajardo, por isso não preciso dizer que o conteúdo também era bem bacana, mas fiquei um tempo surfando na entonação, nas texturas, nos meio-tons, na peculiaridade da linguagem do Fajardo.
Aí uma hora eu ouvi "...me interessa o método, o processo, mais que o objeto..." e meu intelecto, ou um pedacinho dele, despertou, como quando a gente sente o cheirinho do café passado de manhã.
A obra de arte tem o caráter "objeto" e o caráter circundante: conceito, materialidade, interação e tudo aquilo que vem junto, tipo os cookies do seu computador...
Então notei que ...me interessa o método, o processo e muito esse caráter objeto - que o Fajardo estava descartando - pois acho incrível essa supervalorização do objeto. Aquela coisa que tem forma, peso, cor, cheiro... matéria.
Passamos a vida nos apegando e descartando objetos. Estamos todos numa relação muito louca com os objetos a nossa volta.
Nessa nossa realidade espaço-tempo, quero mais, mais, mais o objeto. Para mim não basta mais fazê-lo (ou mostrá-lo) efêmero. A desmaterialidade não nos impressiona mais, ou não estaríamos achando normal viver on-line e chegarmos a uma certa satisfação com isso.
Quero a supermaterialidade. Quero quebrar a relação espaço-tempo pelo avesso. Vamos ver o tempo se esticar, o objeto permanecer, a matéria pesar.
E aí poderei ver quão pequenininha e efêmera eu sou.
Aliás, já nem sou, só estou.
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